quinta-feira, 1 de julho de 2010
Ulla Hahn
Como nasce um poema?
Em andamento. Com os pés assentes na terra, com as palavras na cabeça. Do movimento nasce um ritmo, as palavras aproximam-se, imagens acompanham-me a passada, até me forçarem a parar e a escreve-las. É então que nasce o poema: das coisas por que passamos. Que atravessamos. Que fizemos. Só está vivo aquilo que se mexe. Os poetas são coleccionadores. "Procuram com paciência para encontrar por acaso" (Valéry).
Júbilo
E depois dias há em que o júbilo
é indescritível no meu peito
batem cem corações felizes.
Todos os cuidados pelo esgoto abaixo
e tu arrastado com eles.
O mundo está de novo aí.
Nada mais a esperar
nada mais a temer
de ti.
Basta
Viver não basta queremos sonhar
em jardins encantados florestas com árvores
que transformam serras mecânicas em rosas e pão
Andar não basta queremos pairar
sobre ruas em que tanques e porta-aviões
se desfazem em leite e mel
Comer não basta queremos beijar
gente bela basta que
seja gente.
Clara loucura
O amor não é um anjinho com asas
nem Cupido roliço a atirar dardos
o amor é um anjo de entre muitos
que a ira de Deus baniu dos céus estrelados
quando como Ele quis ser esse amor: belo
cruel e cego e todo poderoso não
deste mundo desde então ele mostra
o semblante em constante mutação
do anjo exterminador que faz dançar
ao som do chicote os corações até
que para abater os fracos e caídos
sobre o pescoço lhes assenta o pé
e ai fica girando no tacão
para lá para cá sem pressas com rigor
Um ou outro lá conseguem escapar
e a senha é: Já te não tenho amor.
A SEDE ENTRE OS LIMITES
Ulla Hahn
Versão de João Barrento
Relógio d´Água
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